Senador Aníbal alerta para “crise humanitária” no Acre

Senador Aníbal alerta para “crise humanitária” no Acre

Preocupado com a situação dos imigrantes haitianos, Aníbal Diniz pede intervenção imediata do Governo Federal. A ajuda com refeições e moradia já custou ao estado do Acre R$ 1 milhão. “Há um esquema de coiotes. O Acre não reivindica uma intervenção policial, e sim humanitária”.

O Brasil está prestes a viver uma crise humanitária de repercussão internacional. “É urgente a intervenção do governo federal para impedir que a situação dos refugiados haitianos na cidade de Brasiléia (AC) escape ao controle das autoridades”, alerta o senador Aníbal Diniz (SC), que vem acompanhando de perto as consequências da chegada de centenas de imigrantes do país caribenho em busca de trabalho no Brasil.

Segundo Aníbal, “a situação vem se agravando de maneira exponencial”.

Há alguns meses, a cidade começou a receber os primeiros grupos de haitianos. No último domingo, o contingente já era 724 pessoas — o equivalente a 5,6% da população da cidade, que tem 13 mil moradores na área urbana. “E a cada fim de semana chega mais uma centena”, conta o senador.

Localizada às margens do Rio Acre, na fronteira com a Bolívia e a 270 quilômetros de Rio Branco, a pequena Brasiléia vem recebendo como pode esses refugiados da fome e da desordem social, endêmicas ao Haiti e duramente agravadas com o terremoto de janeiro de 2010.

O estado do Acre vem fornecendo duas refeições diárias a cada um dos imigrantes e pagando as despesas de hospedagem de mais de 300 deles. Nos poucos hotéis da cidade, a superlotação é a regra. “Os moradores se esforçam para lidar com o choque de ver tantas pessoas jovens e em idade produtiva aglomeradas nas praças, sem qualquer perspectiva”, conta o senador.

A ajuda aos imigrantes já custou ao estado do Acre R$ 1 milhão. “Os recursos, porém, estão acabando”, avisa Aníbal. O governo acreano já anunciou que em 30 de dezembro terá que interromper todo o auxílio aos haitianos.  “Tememos a convulsão social que pode resultar dessa situação, mas não há alternativas: o Acre está estrangulado com as despesas”, explica o senador

Em linha reta, a distância entre Porto Príncipe, capital do Haiti, e Brasiléia é de 3,5 mil quilômetros. A rota percorrida por esses imigrantes, porém, é muito mais tortuosa. Começa ao cruzarem a fronteira com a República Dominicana — país com o qual o Haiti divide a Ilha de Hispaniola, no Mar do Caribe —, de cujos portos embarcam para o Panamá. Depois de atravessar esse país até a Costa do Pacífico, embarcam para o Peru ou Equador, onde uma longa jornada desde o litoral, através dos Andes e até a Amazônia os leva à cidade de Cobija, na Bolívia, de onde cruzam o Rio Acre para Brasiléia, na margem oposta.

“É claro que há um esquema de coiotes [criminosos especializados no transporte de imigrantes ilegais] em funcionamento”, avalia Aníbal. “Mas o Acre não reivindica uma intervenção policial, e sim humanitária”, antes que a situação saia do controle. Aníbal teme a reação da população local ao impacto sobre a cidade gerado pela chegada das levas de refugiados que chegam todas as semanas à cidade.

“Além disso, não sabemos como a falta de perspectiva vai se refletir sobre os haitianos, especialmente quando a ajuda do governo estadual for interrompida”.

O senador conta que a maioria dos imigrantes são homens jovens, com alguma qualificação profissional. “As famílias investem os últimos recursos para que eles consigam chegar ao Brasil e, daqui, possam conseguir trabalho e mandar algum dinheiro para lá”. Ele acredita que essas características poderiam ser tratadas pelo Brasil como uma oportunidade: “O País precisa cada vez mais de mão de obra qualificada. É perfeitamente viável absorver esses refugiados”.

Mas não em Brasiléia, a cidade que cresceu em torno de um seringal e onde os estímulos ao comércio de fronteira e não conseguiram  substituir a extração do látex como base da economia local. “Ainda assim, estamos orientando os haitianos a não cruzarem a fronteira para a Bolívia, onde sofrem todo tipo de perseguições, extorsões e violência”.

A solução proposta por Aníbal é a intervenção imediata do governo federal, buscando outros lugares para receber esses imigrantes e fazendo gestões diplomáticas junto aos governos da República Dominicana, Panamá e Peru, com o objetivo de sustar o fluxo ilegal e desordenado de refugiados.

“O Brasil tem o dever de solidariedade e a obrigação constitucional de abrigar pessoas em fuga das guerras, da fome e da miséria. O Acre, porém, não tem como resolver sozinho o problema. Infelizmente, ainda não foram tomadas as providências necessárias, na esfera federal. Resta-nos torcer para que isso ocorra antes de termos uma tragédia nas mãos”.

Cyntia Campos

 

Foto: http://letraspedacos.blogspot.com/2011/02/refugio-exilio-e-imigracao.html

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