Propinoduto: “Me recuso a ser engavetador”, diz Cardozo

Propinoduto: “Me recuso a ser engavetador”, diz Cardozo

“Qualquer coisa, com um mínimo de plausibilidade ou consistência que eu receba, encaminho para a PF. Não será o primeiro, não será o último. Pode envolver meu partido, outros partidos, pessoas da minha família”.

 

“A época dos engavetadores gerais de denúncias
no Brasil acabou há alguns anos, e eu me recuso
a ser um engavetador” (EBC)

O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reagiu duramente a mais uma tentativa do tucanato de esconder o essencial sobre o desvio de dinheiro das obras de infraestrutura de transporte de São Paulo: quem fez o roubo. Nesta terça-feira (27), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) resolveu cobrar a punição de quem quer investigar a denúncia e, em entrevista coletiva, pediu a demissão de Cardozo. Horas depois, o ministro rebateu ao declarar que “a época de engavetador geral já acabou”.

“Imaginar que o ministro da Justiça receba um documento como estes e deve reunir seus assessores para rasgá-lo na frente de todos é imaginar que ainda estamos numa época em que existem engavetadores gerais. A época dos engavetadores gerais de denúncias no Brasil acabou há alguns anos, e eu me recuso a ser um engavetador”, afirmou Cardozo, em referência ao procurador-geral da República no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), Geraldo Brindeiro, que ficou conhecido como engavetador-geral da República devido ao arquivamento de denúncias que também envolviam o PSDB.

Mais recentemente, há cerca de um mês, o título de engavetador foi transferido para outro procurador da República: Rodrigo de Grandis, após diligentemente esquecer em uma de suas gavetas um pedido de colaboração de procuradores suíços no caso Siemens. O Ministério Público da Suíça requisitava ajuda para investigar a movimentação financeira dos consultores Arthur Teixeira, Sérgio Teixeira e José Amaro Pinto Ramos, suspeitos de intermediar pagamentos de propina a agentes públicos do governo paulista. Segundo De Grandis, houve uma “falha administrativa”, porque o documento foi parar em uma gaveta errada e, por isso, arquivado indevidamente por dois anos e oito meses.

Aos jornalistas, Cardozo explicou que as denúncias sobre o esquema de corrupção no metrô de São Paulo, estado governado há quase duas décadas por tucanos, foram entregues a ele em maio pelo secretário de Serviços da prefeitura da capital paulista, Simão Pedro. O encontro foi na casa do ministro, também em São Paulo, em um domingo. “Não há nenhuma ilegalidade. Onde a autoridade pública estiver, ela pode ser instada. E foi. Não há nada de sombrio nisso. Não vejo porque possa haver qualquer mácula nesse procedimento”, argumentou. “Qualquer coisa, com um mínimo de plausibilidade ou consistência que eu receba, encaminho para a Polícia Federal. Não será o primeiro, não será o último. Pode envolver meu partido, outros partidos, pessoas da minha família.”

O documento, apócrifo, apresentava planilhas e nomes dos envolvidos no cartel de empresas formado para dominar concorrências na entrega de trens e equipamentos à autarquia, e se somou a outras investigações em curso na Polícia Federal e no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), ambos subordinados ao Ministério da Justiça. Ao Cade, o caso chegou graças a executivos da alemã Siemens, que participou do conluio e decidiu recorrer a um acordo de leniência, pelo qual pode se livrar de penas em troca de informações sobre o esquema.

Na semana passada, foi divulgada a informação de que os documentos continham denúncia atribuída ao ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer. Ele delatava a existência do esquema durante as gestões tucanas de Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, com objetivo principal de desviar recursos para as campanhas eleitorais do PSDB e do DEM. Além disso, citava o secretário da Casa Civil de Alckmin, Edson Aparecido, como receptor da propina encaminhada pelo lobista Arthur Teixeira. Outros três secretários do governador são citados como pessoas próximas a Teixeira: José Aníbal (Energia), Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos) e Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico), do DEM, além do senador Aloysio Nunes (SP).

“Quero lamentar a tentativa de transformar uma investigação séria, feita administrativamente pelo Cade, e no plano policial pela Polícia Federal, em uma disputa política, em uma disputa eleitoral. Aqui não tem nada de eleições, aqui não tem nada de disputa política. O que existe é uma investigação”, afirmou Cardozo. Ele recordou que o esquema vigente em São Paulo é investigado também no exterior, onde houve inclusive condenações, e que o fato de ter partido da Siemens a iniciativa de procurar o Cade deslegitima a tentativa de associar a denúncia a um interesse eleitoral do PT.

Manobra 2
Além de pedir a cabeça do ministro, os tucanos articulam outra manobra para culpabilizar o ministro da Justiça. Os parlamentares do PSDB desejam convocar Cardozo para interrogá-lo sobre o encaminhamento das denúncias. Eles também devem apresentar pedido de investigação junto ao Cade.

Com informações da Rede Brasil Atual e Brasil 247

 

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